quinta-feira, 9 de abril de 2009

Colunistas || O Banco do Brasil e o Spread Bancário

Na última quarta-feira, o planalto gerou uma boa polêmica ao decidir pela troca do presidente do Banco do Brasil. A frustração do governo com a anterior direção do banco estava nas taxas de juros praticadas pela instituição, que não estavam baixas o suficiente para promover uma maior competição e assim reduzir o spread bancário.

Mas a falta de competitividade é o motivo principal de o spread bancário ser tão alto no Brasil? Certamente não. Um conjunto de fatores é responsável pela formação de uma taxa final acima das praticadas em outros países.

• Incertezas macroeconômicas: O Brasil está hoje muito melhor do que há vinte anos, mas está longe de ser uma economia com ambiente macroeconômico estável. Instabilidade econômica é risco. E maior risco é maior taxa.

• Tributos altos: Os impostos diretos e indiretos que incidem sobre as operações de crédito, como o IOF, PIS, COFINS, CSSL e IR são também repassados aos preços das operações.

• Custos da avaliação de crédito: Os bancos brasileiros têm dificuldades para saber quem é o seu cliente. A falta de um cadastro positivo e de ferramentas abrangentes faz com que o custo para avaliar o crédito seja muito alto no país. Esse custo também é repassado ao cliente.

• Questões legais: A legislação inadequada e a interpretação dos processos no sistema judiciário, que muitas vezes decide a favor do lado mais fraco, desconsiderando as condições contratuais e privilegiando maus pagadores, fazem com que os bancos descontem as incertezas no cumprimento dos contratos em maiores taxas de juros das operações.

• Morosidade da justiça: Tempo é dinheiro. Com processos que podem levar até dez anos para serem resolvidos, o custo para o recebimento de dívidas é muito alto no país.

• Alta demanda por crédito: O país tem uma relação entre demanda e oferta de crédito que não contribui para a diminuição do spread. O governo, por ser grande consumidor de crédito para financiamento da dívida pública, fica com grande parte das disponibilidades. Com a crise iniciada em 2008 e a conseqüente dificuldade de obter empréstimos no exterior, muitas empresas estão se endividando no país, contribuindo para a redução da oferta de crédito. Assim como qualquer produto no mercado, o preço do empréstimo respeita a relação entre demanda e oferta, tornando o dinheiro mais caro.

• Alta inadimplência: A crise afetou a capacidade de pagamento das pessoas e empresas, aumentando a inadimplência e causando assim um aumento nas taxas praticadas.

• Baixa competitividade: Ainda que os bancos não atuem na forma de um cartel, certamente a concentração bancária diminui as opções do consumidor. Além do baixo número de instituições, há o problema regional. A concorrência é grande somente nas grandes capitais. Mais de 500 municípios brasileiros sequer possuem uma única agência bancária.

Assim, a solução para a questão do spread parece depender de soluções mais estruturais e de longo prazo, como fornecer aos bancos uma maior transparência sobre quem é seu cliente, diminuir os impostos sobre operações financeiras, aumentar a qualidade e eficiência do sistema judiciário, aumentar a concorrência bancária e reduzir a taxa básica de juros.

A meu ver, ações como a perpetrada no Banco do Brasil vão representar uma pequena ou até nenhuma redução no spread, além de dar ao mercado mais um sinal de que o governo não tem grandes preocupações em preservar os direitos e interesses dos investidores, o que na interpretação do mercado significa mais instabilidade e consequentemente maior rico.

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Felipe Augusto Russo é investidor e autor do livro de análise fundamentalista “Avaliando Empresas, Investindo em Ações”.

3 comentários:

xyz disse...

Ótima a sua explicação que concordo em número e grau. O grande problema brasileiro se chama: político.
Acham porque acham que medidas impositas, populistas e que não vão a cerne da questão resolvem todos os problemas. Assim sendo, só precisaríamos do Executivo, governando por decretos. aliás, isso já ocorre. Outro fator a se poderar: a nossa equipe econômica é péssima. Guido Mantega, se cair de quatro no pasto, não levanta mais. é isto e parabéns

Augusto Pinto disse...

Edinaldo, brilhante seu post! Será que não temos uma saída simples para essa sinuca de bico? Pensando no assunto spread, me ocorreu uma idéia. Hoje o governo controla a liquidez do sistema financeiro, e também garante sua saúde, através do instrumento do empréstimo compulsório. A liquidez diária dos bancos é garantida por empréstimos interbancários, remunerados via CDI (que por sua vez se baseia na SELIC, definida pelo BACEN). Retido o compulsório e tendo crédito para operar no sistema interbancário, cada banco empresta a quem quiser e pelo spread que bem definir. Isso é capitalismo.
Agora vamos imaginar que a FEBRABAN se tornasse uma espécie de FMN (Fundo Monetário Nacional) e que, fazendo analogia com o FMI, recebesse a parte do capital que a tesouraria dos bancos reservasse para emprestar. O FMN faria a administração desse fundo e dele o governo tiraria seu compulsório, da mesma forma que faz hoje. Cada banco submeteria a análise de risco de inadimplência de seus clientes para análise e liberação do empréstimos pelo FMN (como os países membros fazem com o FMI) . Assim, a questão de análise de risco seria feita com critérios padronizados, definidos e controlados pelo BACEN, e executados pelo FMN, o que daria total transparência à questão de análise de risco de inadimplência (principal culpado pelo spread alto, segundo os bancos).
Para alavancar seu caixa, os bancos poderiam solicitar empréstimos de curto prazo ao FMN, em função do spread médio que estivesse cobrando de seus clientes. Esse “novo CDI” seria inversamente proporcional ao tamanho do spread cobrado, através de regras definidas pelo BACEN e sob seu controle direto. Ou seja, quem emprestasse mais barato tomaria CDI mais barato, tudo isso sob estrito controle do BACEN. Estariam assim preservadas as regras de concorrência do capitalismo, mas com um nível de intervenção e controle de governo muito maiores que hoje.
Faz sentido?

Edinaldo Oliveira disse...

Augusto,

O post é do nosso ilustre colunista Felipe Augusto Russo. Sua idéia faz sentido, entretanto existem muitos interesses "particulares", os quais, acredito eu, farão com que este tipo de prática não ocorra, afinal que ganharia também seriam os clientes rsrsrs

Abraços