sexta-feira, 5 de março de 2010

“Não se pode servir a Deus e ao Dinheiro”


“Aplicações”,”bolsa”, “investimentos”, “lucros”, “prejuízo”, “pregão”, “after”, “trades”, e tantas outras, são palavras que dia-a-dia passam a fazer parte do vocabulário de uma parcela cada vez maior de brasileiros.

A necessidade do “obter” ou simplesmente do ”ter”, juntamente com a vontade de adquirir cada vez “mais” e “melhores” objetos de consumo, têm levado a nossa sociedade a uma busca frenética que envolve e toma cada vez mais tempo e atenção por parte dos competidores desta incrível maratona chamada “mercado”.

Evidentemente vivemos em uma sociedade onde é necessário o consumo diário de bens, e a aquisição de outros tantos, de forma a conseguirmos atingir uma situação econômica confortável e, assim, podermos então proporcionar a nós e a nossa família o que achamos que merecemos.

De maneira alguma poderia aqui tecer críticas a este esforço louvável de tantos companheiros de jornada na Terra; muito menos afirmar que este tipo de preocupação é “errada” ou “inválida”. Não... a sensatez nos indica que tudo que possamos adquirir através da utilização de nossos conhecimentos e do trabalho honesto em alguma atividade lucrativa nos é lícito e permitido.

Também é correta a busca da garantia de um “amanhã” (que pode ser próximo ou longínquo) atendido por uma estabilidade financeira e econômica para nós e a família que tenhamos, de forma a não ficarmos expostos a imprevistos e imprevidências no que seja relativo ao capital para nossa (sobre)vivência.



Em meu ponto de vista o problema ocorre quando esta preocupação toma medidas exageradas e, porque não dizer, excessivas.

Muito bem colocada se apresenta a campanha da fraternidade deste ano de 2010, que traz como tema “Economia e Vida” e como lema “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24c).

Me atrevo a afirmar que, quando uma entidade do porte da igreja católica volta sua atenção para um determinado objetivo de cunho social, este assunto deve ser analisado profundamente e verificado em sua pertinência de como está nos afetando em relação à nossa família e à sociedade em que vivemos hoje.

De minha parte conheço diversos companheiros que, em busca de um bem estar maior para seus filhos, deixam de conviver com as crianças e apenas comparecem nos finais de semana com um presente “caro”, buscando suprir a necessidade da criança; quando na verdade o que ela deseja é a presença de sua família completa e mais freqüentemente próxima a ela.

Outros se empenham tão imensamente em garantir o futuro que passam desapercebidos pelo presente e, quando percebem, dão de cara com sua vida no passado, de onde não poderão usufruí-la mais.

Alguns de isolam em negócios e oportunidades espetaculares, deixando para depois a chance de viver e conhecer pessoas que poderiam modificar sua vida em um sentido mais amplo do que meramente monetário.


Outros ainda conseguem o sucesso em seus empreendimentos e usufruem os resultados em diversões e situações passageiras “aproveitando a vida”, sem construir para si uma base segura ou um esteio onde possam ter o apoio nas horas de necessidade; e, quando necessitam deste apoio, encontram, no mais das vezes, um local vazio... e assim como estes são inúmeros os casos.

Jesus, há dois mil anos, afirmou sabiamente: “A César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22, 21) – e nos dava a exata medida do que é necessário compreender: deve haver um tempo para os interesses do material; assim como deve haver um tempo para os interesses do espiritual.

E coloco isto independente de escolha religiosa. Amor, afeto, carinho, atenção, dedicação, cuidado, são escolhas que independem da religião de cada um; porém dependem muito da prioridade que colocamos em nossas vidas.

O poeta francês Victor Hugo em seu poema “desejo a você”, afirma:
“Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele na sua frente
e diga `Isso é meu`,
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem”.


É necessário que tenhamos o suficiente para nos sentirmos confortáveis com nossa situação; assim como é necessário o esforço para que atinjamos o nosso objetivo. Porém se faz imprescindível que retomemos as rédeas de nossos sentimentos e passemos a valorizar de maneira maior as coisas que podem nos dar um pouco mais de paz em nossa caminhada Terrena.

Ao “ajuntarmos nossos tesouros na Terra” não esqueçamos também de investirmos em nossos tesouros íntimos: pessoas que amamos, paz de espírito, vínculos sentimentais e espirituais duradouros e fortes, orientação religiosa, entre tantos outros.

Nunca o mundo se preocupou tanto com o “ser” e o “ter”; assim como também nunca tivemos tantos casos de “depressão”, “transtornos” e “síndromes” – Adoecemos a alma na busca incessante da matéria.


Busquemos então reservar, em nosso precioso tempo, um espaço para estarmos com quem nos ama, aprendermos novas idéias , conhecermos a nós mesmos, crescermos como pessoa, trabalharmos em caridade, conversarmos com Deus... E assim, quem sabe, enfrentarmos os outros dias ou horários, os quais reservamos para a busca da estabilidade, com um pouco mais de tranqüilidade, paz e esperança dentro de nós.

Paz com todos.

João Batista Sobrinho
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Nota: João Batista sobrinho é espírita e este texto representa sua opinião pessoal, não representando a opinião do blog www.edinaldojunior.com que se apresenta como um espaço laico.

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