quinta-feira, 11 de junho de 2009

Colunistas || Sanguinário Mundo Novo

“É impensável que Deus, que é sábio, tenha posto uma alma, sobretudo uma alma boa, num corpo negro”, nos disse absurdamente lá no século XVIII, o pai da liberdade e democracia moderna, o iluminista Barão de Montesquieu. Hoje temos um negro comandando o planeta, um mestiço na presidência da Venezuela, um ex-operário eleito no Brasil e um índio no poder da Bolívia, sem falar dos “amarelos” lá da Ásia, que já estão incomodando muito o intocável Ocidente. Bush, o homem que “democratizou” o Iraque e Afeganistão, deu início ao século XXI, que tem tudo para ser mais violento e sanguinário da história.

Nem parece, mas Barack Obama mata tão bem quanto os outros 43 homens que ocuparam a presidência dos Estados Unidos desde 1789. No começo de maio (2009), integrantes das Forças Especiais da Marinha dos EUA brincaram de tiro ao alvo nos arredores de Bala Baluk e Ganjabad, no Afeganistão, matando cerca de 150 civis afegãos, que estavam passeando, trabalhando, estudando, namorando, casando e se divertindo, sem imaginar que bombas iriam cair sobre suas cabeças. Ninguém soube do bombardeio, ninguém comentou abertamente sobre as famílias perdidas. A política externa do Novo EUA sobre o Oriente Médio é a mesma: palestinos são do mal e israelenses são do bem, os cruzados da Cristandade contra os netos de Caim. O Irã é governado pela teocracia do demônio, enquanto a “democrática” Arábia Saudita tem a bênção dos americanos.

Já na Ásia, nada vai mudar da Era Bush para a Era Obama. A China comunista é a maior parceira do capital financeiro e dos EUA, os chineses controlam o coração que bombeia os trilhões de dólares e euros que circulam no mundo. Todos os países devem à China, inclusive os EUA. Porém, outro país comunista vem metendo medo nos estadunidenses e nos vizinhos asiáticos, que é a Coréia do Norte, pois já testou duas bombas nucleares, mas não matou ninguém. Já os americanos, também testaram duas bombas nucleares em 1945 e morreram 400 mil japoneses. Este mesmo Japão que hoje é a principal ponte entre EUA e a Ásia (como a Inglaterra é na Europa). O problema da Coréia do Norte é infinitamente superior para os americanos, do que foi o Iraque, onde invadiram e mataram 900.000 pessoas de 2003 pra cá. Kim Jong Il, o presidente norte-coreano, já disse: “Qualquer coisa, o Japão está no alvo”. Ninguém vai deixar tirar uma Mitsubishi do planeta. Se invadirem a Coréia do Norte, metade da Ásia vai pro espaço. E que se cuide a América e Jack Bauer.

Por falar em América, não iremos observar mudanças relevantes nas relações dos EUA e nós, latinos, no início deste século e da nova década que virá. Obama só tem uma preocupação na América do Sul e Central: os países que criaram vida própria. Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua, El Salvador, Paraguai e a veterana Cuba (sem falar de países com uma esquerda mais moderada, como Brasil, Argentina e Chile) formaram uma frente única para confrontar com o capital financeiro e estrangeiro, que tinham privatizado até a água da chuva na maioria desses lugares. A América Latina, pela primeira vez desde a chegada de Cristóvão Colombo, ameaça os grandes países com certa dose de autonomia. Fora isso, os EUA não têm nada para tratar com os latino-americanos, por enquanto. O “ouro azul”, a água, ainda não é prioridade, mas em breve será e seremos invadidos. E o etanol é produzido nos EUA também (através do milho), portanto não precisa ser explorado e levado do Brasil. Mas é só questão de tempo.

E a Europa? Como está o berço da civilização e das guerras mundiais? No velho continente dou destaque para a Rússia. Depois do estopim da crise financeira internacional, muitos acharam que seria o fim do capitalismo e do Império Americano no mundo. O capitalismo não morreu, nem vai morrer agora e muito menos os EUA vão deixar de ser o líder planetário. Mas aconteceu uma diminuição no espaço de poder entre os países ricos, ou seja, algumas nações que antes estavam adormecidas, agora acordaram. A Rússia é o grande exemplo. Depois da desintegração da URSS em 1991, os russos perderam grandes territórios que continham bases militares estratégicas e imensos recursos naturais e minerais, dando um corte pesado na sua poderosa economia. Moscou nunca aceitou a perda, por isso, o que estamos vendo hoje é uma nova tensão na Europa. Desde 2007, a Rússia está tentando formar um bloco econômico com a França (esta que não está contente com o andamento das relações na União Européia e o euro, pois com a mudança da moeda e a unificação continental, milhares de franceses perderam seus empregos), Turquia e alguns países do norte da África, para entrar em choque com os demais países da Europa, principalmente a Alemanha. Sem falar das tensões entre a Rússia e os EUA sobre a instalação de escudos antimísseis na Polônia. E o que os russos querem? Combater o euro também? Não. A Rússia quer força e apoio para reconquistar o que foi perdido. Está nascendo uma guerra de reconquista na Europa. Isso é um desastre, pois a última guerra de reconquista em solo europeu terminou com um saldo de 50 milhões de mortos na 2ª Guerra Mundial, sem contar os cinco milhões de judeus que viraram sabonete e pó nos campos de concentração.

O planeta está dividido em grandes blocos político-econômicos que se odeiam. Se pegarmos os números reais, os nove primeiros anos do século XXI nos mostraram mais mortos por conflitos e guerras, do que os nove primeiros anos do século XX. Estamos começando o século do sangue, um mundo novo cheio de alternativas para assassinar, invadir, torturar e explorar. Nosso poder de matar aumentou infinitamente, através da tecnologia de ponta. As guerras e carnificinas deixaram de ser contradições do nosso tempo. Já a paz, esta sim, passou a ser a grande contradição.

Autor: Felipe Liberal.

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Felipe Liberal é Graduado em História pela Universidade Católica de Pernambuco e Pós-graduado em Ciência Política. Dá palestras sobre temas de História, Política e Geopolítica brasileira e internacional.

4 comentários:

vanderson nunes disse...

e aí edinaldo, muito bom o texto! não sabia que obama tinha atacado já..são todos iguais mesmo né?! vai ter sempre textos desses temas aqui??

Edinaldo Junior disse...

Sim, o crédito desse texto é do nosso novo colunista Felipe Liberal, ele sempre estará postando análises políticas. Continue acompanhando.

Obrigado pela visita!

Carine disse...

excelente texto!

rick disse...

esses textos vão ser de quanto em quanto tempo? legal!