sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Felipe Liberal || E o Nobel da Guerra vai para...

A História é justa. Não vejo nada mais justo que o “Mercador da Morte”, Alfred Bernhard Nobel, seja o dono da vida e da paz. Nada mais justo que esse sueco explosivo, inventor das bananas de dinamite (neste momento lembrem-se dos corpos dilacerados por elas, se nunca viram, imaginem), dê sobrenome ao maior prêmio dado aos que buscam o marasmo e o branco da conversa e diplomacia. O que seria da Vida sem a Morte? E o que seria da Paz sem a Guerra?

A Guerra - que matou Santos Dumont de depressão – é um privilégio de poucos. Quando soube que Barack Obama ganhou o Prêmio Nobel da Paz, várias lembranças vieram em minha mente, como se fosse um raio.

O ex-presidente americano Theodoro Roosevelt ganhou o prêmio Nobel da Paz, em 1906. Roosevelt foi o responsável pela política americana do “Big Stick” (Grande Porrete), que alguns países latino-americanos ainda hoje têm pesadelos com ele. Não se tem ideia de quantos corpos caíram no chão por conta das ações do “homem do porrete”, mas, com certeza ninguém ainda contou as vítimas de quando ele era chefe militar, antes de se tornar presidente.

Já o ex-presidente e democrata, Thomas Woodrow Wilson, que ganhou o Nobel da Paz em 1919, possui uma boa desculpa pra dar. Ele criou a Liga das Nações (a ONU da época), para estabelecer a paz no mundo. Mas ninguém perguntou às milhares de vítimas das invasões feitas por ele no México, Nicarágua, Panamá e Haiti, se elas concordavam com isso. Sabem por que não perguntaram? Porque essas pessoas estão mortas, algumas queimadas, outras destroçadas e muitas desaparecidas. Wilson foi um dos presidentes americanos que mais reduziu a participação de negros na política americana, em vários estados do país.

Quando alguém fala em Demônio, logo me vem na cabeça um nome: Henry Kissinger. O Milosevic de Manhatan,ex-secretário de Estado dos Estados Unidos, por incrível que pareça, também ganhou o Nobel da Paz, em 1974. Kissinger é responsável pela morte de 600 mil civis no Camboja, 350 mil em Laos e 500 mil em Bangladesh. Assassinou, em 1973, o presidente eleito do Chile, Salvador Allende, e colocou Pinochet no lugar. Apoiou o general Suharto, no genocídio de pelo menos 200 mil pessoas no Timor Leste e planejou o golpe militar do Chipre, em 1974.

Já em pleno século XXI, no ano de 2009, o presidente Barack Obama recebe o Nobel da Paz. Mais um americano com as mãos sujas de sangue recebe o troféu que representa a Vida. Pra quem ainda não sabe, em maio deste ano, os EUA bombardearam o Afeganistão, matando mais de 200 civis e deixando centenas de desabrigados. Obama também retirou um grande montante de dinheiro das pensões operárias na GM, para pagar dívidas com o Citibank e JPMorgan, dando uma boa dose de insegurança para esses trabalhadores. Muito sangue para quem só tem 10 meses de governo.

Já que sabemos que os jurados para a escolha do Prêmio Nobel da Paz são cegos, surdos e mudos, mudaremos o nome da festa. O Prêmio Nobel da Paz agora se chama Prêmio Nobel da Guerra. Agora sim, a História fica ainda mais justa e coerente.

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Felipe Liberal é Graduado em História pela Universidade Católica de Pernambuco e Pós-graduado em Ciência Política. Dá palestras sobre temas de História, Política e Geopolítica brasileira e internacional.

3 comentários:

ismellmoney disse...

Felipe:

Parabéns pelo texto, concordo com as suas palavras. Me vem a mente "O que foi que Obama fez para merecer esse prêmio?" O cara acabou de entrar para o governo e ja lhe dão um prêmio?
Que marmelada e safadeza das brabas, como diriam os americanos: "That's bolshit".

Felipe Liberal disse...

Olá, Ismell,

Tem certas coisas no mundo Ocidental que me enojam profundamente! Este prêmio é um deles!

Alberto disse...

Adoro o Felipe! Seus textos são sempre pertinentes dentro do cenário mundial!!